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Pela primeira vez, nos dias 24, 25 e 26 de maio, Manaus sediou a “Navalshore Amazônia”, uma feira do setor náutico. O evento é um desdobramento da tradicional Navalshore, realizada desde 2004 no Rio de Janeiro, e contou com 54 estandes representando mais de 100 marcas nacionais e internacionais. Voltada para a indústria naval fluvial, a feira reuniu fabricantes de motores, equipamentos de comunicação e estaleiros, bem como empresas de navegação, estaleiros e fornecedores de peças para navios. Durante o evento, foram realizadas conferências e um ciclo de palestras. A conferência, que ocorreu nos dois primeiros dias, contou com dois painéis.

No primeiro dia (24), o painel foi dedicado ao financiamento da indústria naval, com a participação de representantes de entidades como o Ministério de Portos e Aeroportos (MPA), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Caixa Econômica Federal. Laura Moutta Calado, analista de infraestrutura e representante do Ministério de Portos e Aeroportos, explicou aos empresários e representantes do setor como funciona a dinâmica de financiamento do Fundo da Marinha Mercante (FMM). Criado em 2004, o FMM é um fundo contábil que visa destinar recursos para o desenvolvimento da Marinha Mercante e da indústria de construção e reparação naval brasileira.

Calado mencionou uma situação peculiar ao abordar a atuação do FMM: o fundo possui recursos disponíveis, porém poucos projetos em execução. Isso ocorre porque parte dos recursos é controlada por bancos, e o risco financeiro e as exigências acabam retardando a aprovação de investimentos. Além disso, o Conselho Diretor do FMM, composto por sindicatos, bancos e representantes da sociedade civil, também precisa avaliar as decisões para evitar conflitos de interesses.

Segundo a analista, apenas 34% dos recursos são utilizados atualmente. Ela explicou: “Atualmente, há apenas 11 obras do Fundo da Marinha Mercante, sendo que há 269 obras aprovadas.” Apesar dos desafios burocráticos, Calado ressaltou que o objetivo do fundo é o desenvolvimento do setor e parabenizou os representantes do setor na Região Norte pela realização do evento.

Durante o painel, representantes de outras entidades apresentaram modelos de atuação que podem beneficiar o setor. Kallil Iangle Maia, gerente substituto da Regional Norte da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), citou vários projetos financiados pela Finep na região Norte, como o primeiro empurrador auxiliar elétrico do mundo em Belém, no Pará. Ele ressaltou que a função da Finep é trazer inovação para o Brasil.

O superintendente executivo do Atacado dos estados do Amazonas, Roraima, Acre e Rondônia da Caixa Econômica Federal, Bruno Cabral, compartilhou as soluções oferecidas pela instituição aos representantes do setor durante a Navalshore Amazônia. A Caixa atua atualmente em diversas linhas de apoio ao segmento de infraestrutura, incluindo linhas de crédito e financiamento, como o Finisa e o FMM.

Em relação ao desafio da formalização, discutido em outras palestras, Bruno explicou que a Caixa possui mecanismos de acompanhamento diário para os clientes. Ele ressaltou as amplas oportunidades na região, com mais de 60 mil quilômetros de rios navegáveis e um enorme potencial a ser explorado.

No segundo dia do evento, ocorreu o painel intitulado “O futuro da navegação na Amazônia – Tendências e Oportunidades”, com a participação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), do Sindicato da Indústria da Construção Naval, Náutica, Offshore e Reparos do Amazonas (Sindnaval) e do Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial no Estado do Amazonas (Sindarma).

Carlos Padovezi, diretor do IPT, elencou os principais desafios enfrentados pelo setor naval na Amazônia, como a sustentabilidade, o transporte de passageiros, a convivência entre um grande número de embarcações nos rios e o transporte de cargas por comboios de barcaças. Ele ressaltou a importância de realizar o transporte de forma sustentável, respeitando o meio ambiente, as necessidades da população e da sociedade, além de garantir segurança e consistência. Os custos operacionais, a acessibilidade e o uso de recursos naturais também são desafios significativos.

Padovezi abordou ainda as características da região, como a velocidade das embarcações no Rio Amazonas, explicando que quanto maior a velocidade, maior o risco para a navegação. O conforto e a segurança dos passageiros também são grandes desafios a serem enfrentados.

Um dos desafios futuros mencionados foi o aumento do tráfego nos rios da Amazônia, demandando uma atenção especial à segurança. O treinamento das tripulações também foi destacado como uma necessidade, pois, segundo o diretor do IPT, cerca de 70% a 80% dos acidentes nos rios são causados por fatores humanos. Portanto, investir em treinamento constante é fundamental para reduzir os riscos e aumentar a segurança.

Padovezi também ressaltou o enorme potencial da região amazônica para o transporte de grandes comboios de cargas, enfatizando a necessidade de garantir um nível satisfatório de segurança. Ele defendeu a existência de subsídios para o transporte regional de passageiros e a atenção ao processo de ocupação das margens das hidrovias em trechos críticos da navegação.

O Cluster Tecnológico Naval marcou presença no evento, juntamente com a Ghenova, SKM e Vision Marine. Frederico Cupello, diretor da Ghenova Brasil, destacou a perspectiva de crescimento da área naval na região amazônica como a melhor possível. Ele ressaltou a importância do transporte fluvial na região para a construção de uma solução para os gargalos logísticos e de infraestrutura do Brasil.